quarta-feira, 12 de maio de 2010

O papel do educador no letramento como “professor-letrador”

 

Segundo Paulo Freire para o educador o ato de aprender é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Esta constatação não está relacionada somente ao educando, pois sabemos que o educador tem que estar sempre adquirindo novos aprendizados, lançando-se a novos saberes. Isto resulta em mudanças de vários aspectos, como também, gera o enriquecimento tanto para o educador quanto para o educando, que com certeza lucrará com esse desenvolvimento.

O profissional de educação deve ser capaz de fazer sua interferência na realidade, o que certamente, gerará novos conhecimentos, e isto é bem mais elevado do que simplesmente se enquadrar na mesma.

Saber ler e escrever um montante de palavras não é o bastante para capacitar o indivíduo para a leitura diversificada, neste ponto entendemos que surge a necessidade de se letrar os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem.

Entretanto, desenvolver subsídios para educadores é uma tarefa difícil de ser exercida, pois sabemos que alguns desses profissionais num determinado momento se colocam em uma posição quase inatingível, completos de suas certezas. Porém, se há mutações contínuas na sociedade contemporânea e essas se refletem em todos os setores (inclusive na escola) é lógico que a cristalização dos saberes do educador é um equívoco, pois o conhecimento nunca se completa, ou se finda, e o letramento é um exemplo claro disso.

Pode-se destacar alguns passos fundamentais para o desempenho do papel do “professor-letrador”:

1) investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;

2) planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la;

3) desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes gêneros de textos (habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade);

4) avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades de cada indivíduo;

5) reconhecer a importância do letramento, e abandonar os métodos de aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização.

Contudo, as insuficiências do sistema escolar na formação de indivíduos absolutamente letrados não sucedem somente pelo fato de o professor não ser um representante pleno da cultura letrada, nem das falhas num currículo que não instrumentaliza o professor para o ensino. Quando nos dermos conta de que o processo natural de desenvolvimento do ser humano é massacrado pela escola, e por suas equivocadas práticas de ensino, seremos aptos a promover o letramento. O despreparo e desinformação dos profissionais e os acadêmicos da área de educação promovem a distância entre a assimilação prática e conceitual do letramento.

O mais importante é o profissional de ensino estar aberto para novos conhecimentos e comprometido com o aprendizado do seu aluno, pois assim promoverão novas formas de relações no processo do letramento, visto que este abre caminho para o indivíduo estabelecer conhecimentos do mundo em que vive.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo; DONALDO, Macedo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7ª ed. São Paulo: Ática, 1999.

KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

Sociedade letrada/iletrada - indivíduo letrado/iletrado

Levando-se em consideração de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e ainda, que o ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra, pode-se concluir que o indivíduo não é um depósito vazio e zerado antes da alfabetização, e ali, nós, educadores, estaremos enchendo-o com informações mecânicas e institucionais, através de uma escolarização. Ele já possui sua peculiar capacidade de leitura dentro do seu contexto social para sobreviver em meio ao grupo em que vive. A alfabetização com a prática do letramento, trará ao indivíduo capacidades, competências, habilidades diversas para que este se envolva com as variadas demandas sociais de leitura e escrita.

Letramento e alfabetização - onde está a diferença?

A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, enquanto o letramento “focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”.

Analfabetismo no primeiro mundo? (...) quando os jornais noticiam a preocupação com altos níveis de “analfabetismo” em países como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra; surpreendente porque: como podem ter altos níveis de analfabetismo países em que a escolaridade básica é realmente obrigatória e, portanto, praticamente toda a população conclui o ensino fundamental (que, nos países citados, tem duração maior que a do nosso ensino fundamental - 10 anos nos Estados Unidos e na França, 11 anos na Inglaterra). É que, quando a nossa mídia traduz para o português a preocupação desses países, traduz illiteracy (inglês) e illetrisme (francês) por analfabetismo. Na verdade, não existe analfabetismo nesses países, isto é, o número de pessoas que não sabem ler ou escrever aproxima-se de zero; a preocupação, pois, não é com os níveis de analfabetismo, mas com os níveis de letramento, com a dificuldade que adultos e jovens revelam para fazer uso adequado da leitura e da escrita: sabem ler e escrever, mas enfrentam dificuldades para escrever um ofício, preencher um formulário, registrar a candidatura a um emprego – os níveis de letramento é que são baixos.

O exemplo acima são verificações feitas fora do Brasil, mas demonstra claramente as diferenças entre os dois processos acima citados, inclusive, as diferenças que há em avaliar níveis de letramento e níveis de alfabetização.

Ainda quanto às diferenças entre letramento e alfabetização é necessário alertar que, estes dois processos estão diretamente ligados, contudo, devemos separá-los quanto a sua abrangência. Há verificações de que a concepção de alfabetização também reflete diretamente no processo de letramento. Por outro lado, o que também se observa é que, com freqüência, estes dois de maneira confusa têm sido fundidos como um só processo. Essa confusão implica no exercício de um e de outro.

Onde entra a alfabetização? E o letramento? Se trabalham os dois simultaneamente?

Os dois processos andam de mãos dadas. Não queremos estabelecer uma ordem, ou seqüência, pois já defendemos que todo tipo de indivíduo possui algum grau de letramento, mesmo que seja mínimo.

O que pretendemos é incentivar o educador a fazer uso do conhecimento nato de mundo que o educando possui e sua relação com a língua escrita, assim ele poderá alfabetizar letrando.

Ao saber de algumas distinções básicas destes dois termos poderíamos, também, levantar questões sobre as desigualdades de alfabetizado para letrado.

Por exemplo: um adulto que é analfabeto, contudo, pode ser letrado, ou seja, ele não aprendeu a ler e escrever, todavia, utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro indivíduo alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto que dita o seu texto, logo, ele lança mão de todos os recursos necessários da língua para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de suas particularidades. Ele demonstra com isso que conhece, de alguma forma, as estruturas e funções da escrita.

Esse exemplo nos remete a outro, muito conhecido, que talvez não tenha sido percebido por quem assistiu, é a personagem de Fernanda Montenegro no filme “Central do Brasil” de Walter Salles, que fez uso de sua capacidade de ler e escrever uma profissão, a de “escriba”, já quase desconhecida, em que a personagem escrevia correspondências para pessoas analfabetas em troca de dinheiro. Os indivíduos que a usavam como ferramenta para se envolver em uma prática social, a de se corresponder, mesmo que indiretamente, utilizavam os códigos da escrita. E, de forma peculiar a sua condição eles demonstram possuir características de grupos letrados.

Há casos de indivíduos com variados níveis de escolarização e alfabetização que apresentam níveis baixíssimos de letramento, alguns “quase” nenhum. Estes, são capazes de ler e escrever, contudo, não possuem habilidades para práticas que envolvem a compreensão da leitura e da escrita.

Letramento - onde, como e por que foi criado este termo?

O vocábulo é um tanto quanto fora do comum para muitos profissionais da área da educação e principalmente, para os acadêmicos desse setor. Há alguns anos, pode-se dizer que menos de vinte, esse vocábulo surgiu entre os lingüistas e estudiosos da língua portuguesa, e então passou a ter veiculação no setor educacional.

Há duas formas segundo as quais comumente se entende a alfabetização: ou como um processo de aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e escrita, ou como um processo de representação de objetos diversos, de naturezas diferentes.

O mal-entendido que parece estar na base da primeira perspectiva é que a alfabetização é algo que chega a um fim, e pode, portanto, ser descrita sob a forma de objetivos instrucionais. Como processo que é parece-me antes que o que caracteriza a alfabetização é a sua incompletude.

Com isso, fica subentendido, pelo aspecto sociointeracionista, que a alfabetização do individuo, é algo que nunca será alcançado por completo, não há um ponto final.

A realidade é que existe a extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que diz respeito às práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Neste âmbito, muitos estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e o mundo, pois, este está em constante processo de transformação.

Não que o educando não tenha qualquer saber antes da alfabetização, pelo contrário, sabemos
que todo indivíduo possui, de alguma forma, níveis de conhecimento.

O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Esse é um ponto de suma importância para aqueles que pretendem despojar-se dos restritos, e incisivos, conceitos em que a alfabetização é estabelecida em termos mecânicos e funcionais.

Por todo o tempo em que já vivemos como uma sociedade grafocêntrica, têm-se conhecimento sobre a problemática da falta do saber ler e escrever. Com isso, gerou-se uma crescente preocupação em desenvolver um controle sobre essa questão, através de muitos estudos e ações com o objetivo de erradicar o problema, logo, foi preciso criar um termo e fazê-lo conhecido no campo da pesquisa, surgindo o “analfabetismo”. Mas, observou-se que para o estado / condição daquele que sabe ler e escrever, e, que responde de maneira ampla e satisfatória as demandas sociais fazendo uso de alguma maneira da leitura e escrita, ainda não havia uma denominação. Mais tarde, isso se fez necessário devido à constatação de uma nova situação: de que não basta apenas o saber ler e escrever, necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz. Então, o nome letramento surgiu mediante a esta nova constatação.

O letramento é um fenômeno de cunho social. Ele é o resultado da ação de ensinar e/ou de aprender a ler e escrever, e denota estado ou condição em que um indivíduo obtém como resultado de ter-se “apoderado” de um sistema de grafia.

Letramento: você pratica?

O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras.

Não é novidade que o Brasil ainda enfrenta insistentemente o problema do analfabetismo, tanto de crianças que saem da escola e de outros que não tiveram a oportunidade de se apropriarem do saber da leitura e escrita. É fato que o nosso país possui um número significativo de indivíduos que não adquiriram o saber necessário para atender às exigências de uma sociedade letrada.

De acordo com informações (MEC/INEP) cerca de 980.000 crianças no Período Intermediário do 2º Ciclo sabem ler, e mais de 1.600 são capazes de ler apenas frases simples. Recentemente, a Rede Globo, através do Programa semanal “Fantástico”, fez uma pesquisa intitulada “Provão do Fantástico” aplicada em 27 capitais brasileiras (somente em escolas públicas), e avaliou que mais da metade dos alunos não é capaz de responder a questões que requerem raciocínio e 60% só conseguem identificar informações muito simples.

Esses, seriam apenas mais alguns dados para pessoas comuns, mas é algo extremamente alarmante para o educador. É neste ponto que entra a grande questão da intervenção do educador e a inclusão da prática geradora do letramento.

Parlendas

Você sabe o que são PARLENDAS ??